
Conta a lenda que tudo que cai nas águas deste rio - as folhas, os insetos, as penas das aves - se transforma nas pedras do seu leito.
Ah, quem dera eu pudesse arrancar o coração do meu peito e atira-lo na correnteza, e então não haveria mais dor, nem saudade, nem lembranças.
Nas margens do rio Piedra eu me sentei e chorei.
O frio do inverno fez com que eu sentisse as lágrimas em meu rosto, e elas se misturaram com as aguas geladas que correm diante de mim.
Em algum lugar este rio se junta com outro, depois com outro, até que - distante dos meus olhos e do meu coração - todas estas águas se misturam com o mar.
Que as minhas lágrimas corram assim para bem longe, para que meu amor nunca saiba que um dia chorei por ele. Que minhas lágrimas corram para bem longe, e então eu esquecerei do rio Piedra, do mosteiro, da igreja nos Pirineus, da bruma, dos caminhos que percorremos juntos.
Eu esquecerei as estradas, as montanhas, e os campos de meus sonhos - sonhos que eram meus, e que eu não conhecia."
Parece ter acontecido a tanto tempo, e no entanto faz dias que reencontrei o meu amado e tive certeza de que o perdi...Nas margens de um rio escrevi este desabafo. Lembrei-me daquele poema que diz: "Talvez o amor nos faça envelhecer antes da hora, e nos torna jovens quando a juventude passa..." Às vezes penso que eu sofro por pensar muito em você, mas como não recordar aqueles momentos?? Por isso escrevi: Para transformar a tristeza em saudade, a solidão em lembranças para que quando eu terminar de escrever lançar nas águas escuras e frias de um rio...
Escrevo com sinceridade e tenho certeza de que o que o fogo escreve as águas jamais apagarão...
Paulo Coelho